Olá. A Igreja Cristã Gileade acredita na Santíssima Trindade, manifesta nas pessoas do Pai, Filho e Espírito Santo. Tendo três anos de existência, estamos nos preparando para servir aos filhos de Deus cada vez melhor. Esperamos que este blog possa servir como instrumento de aproximação entre nossos membros, visitantes e o corpo de Cristo em toda a Terra. Venha fazer parte da família de Deus! Acredite! Há paz, há misericórdia, há cura, há um bálsamo em Gileade!!!
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Levai as Cargas uns dos Outros
- Não posso esperar mais tempo, preciso do meu dinheiro, e se o senhor não puder pagar, declararei vencida a hipoteca, e venderei a propriedade, disse o Sr. Martinho.
- Neste caso sei, disse o Sr. Bonilha, que será vendida com grande prejuízo e, apesar de todos os meus esforços, eu e minha família estaremos na rua. É muito duro e eu desejaria que o senhor tivesse de ganhar o seu dinheiro como eu o meu; então talvez compreendesse alguma coisa do viver penoso de um homem pobre. Oxalá pudesse identificar-se uma vez comigo! Creio que havia de ter ainda um pouco de paciência.
- Toda a conversa é inútil; já esperei um ano e não me é possível esperar mais, volveu o Sr. Martinho, voltando para sua secretária, onde continuou a escrever.
O pobre homem ergueu-se vagarosamente do seu assento e saiu triste e cabisbaixo do escritório do Sr. Martinho. Sua última esperança estava desfeita. Tinha justamente convalescido de uma longa enfermidade que lhe havia consumido todas as economias com que pretendia pagar a última prestação. É verdade que o Sr. Martinho havia já esperado um ano, em que, por motivo de doença na família, não lhe tinha sido possível pagar a devida prestação, e ele sentia-se muito grato por isto. Mas este ano ele mesmo havia estado doente sete meses e impossibilitado de ganhar qualquer coisa, de sorte que fora necessário gastar as suas economias para prover sustento da família, e achava-se agora incapaz de satisfazer o seu compromisso. Teria naturalmente de começar de novo. Porventura Deus o tinha esquecido e abandonado à mercê dos ímpios?
Depois de haver deixado o escritório do Sr. Martinho, este começou a meditar na observação que o Sr. Bonilha lhe fizera: "Desejaria que o senhor tivesse de ganhar o seu dinheiro como eu o meu." À medida que escrevia, estas palavras lhe soavam incessantemente nos ouvidos: "Oxalá pudesse identificar-se uma vez comigo." Depois de tudo lhe haver passado mais uma vez pela memória, depôs a pena e disse: "Creio que isto me seria com efeito muito difícil. Penso que devo fazer-lhe uma visita esta tarde e ver em que condições se encontra a sua família; o homem despertou a minha curiosidade."
Por volta das cinco horas pôs uma peruca grisalha, vestiu um fato bastante usado e dirigiu-se à pequena casa do Sr. Bonilha. A Sra. Bonilha, mulher pálida e de aspecto extenuado, apareceu à porta. O pobre velho pediu licença para entrar e descansar um pouco, pretextando estar muito fatigado de uma longa jornada que fizera. A Sra. Bonilha convidou-o prazenteiramente a entrar e ofereceu-lhe como assento o melhor móvel que possuía em casa, depois do que foi preparar a ceia.
O velho a observava atentamente. Notou a fadiga de seus passos e de seus movimentos e o desalento que se lhe estampava no rosto, e o seu coração ficou fundamente comovido. Quando um pouco mais tarde entrou seu marido, um ligeiro sorriso lhe perpassou nos lábios e ela se esforçava por parecer alegre. O viajante notou tudo isto e admirava-se desta mulher, que por amor do marido manifestava uma alegria que no fundo não sentia. Depois de estar posta a mesa, sobre que havia somente pão, manteiga e chá, o hóspede foi convidado a cear com eles: "Não poderemos oferecer-lhe muita coisa; uma xícara de chá, porém, lhe há de convir depois de uma longa viagem."
O velho aceitou a sua hospitalidade e, enquanto fazia honra à singela refeição, induziu-os imperceptivelmente a falarem sobre as sua circunstâncias.
Comprei barato este lote de terra, disse o Sr. Bonilha, mas em vez de esperar até que tivesse economizado dinheiro suficiente para construir a casa, como deveria ter feito, pensei que poderia tomar emprestado alguns centos de mil réis. Os juros que teria de pagar não importariam em tanto quanto o aluguel com que me era necessário entrar todos os meses, e deste modo poderia economizar alguma coisa. Não pensei que a restituição do dinheiro me pudesse causar algum embaraço. No primeiro ano, porém, minha mulher e um filho adoeceram e as despesas excederam a receita, de sorte que nada ficou para amortizar a dívida. O Sr. Martinho concordou em esperar mais um ano, caso eu quisesse pagar-lhe os juros, o que naturalmente fiz. Este ano, porém, estive durante sete meses impossibilitado, por doença, de trabalhar e ganhar alguma coisa. Quando, pois, se vencer o prazo marcado para fazer a prestação, o que será muito brevemente, não estarei em condições de pagar.
- Mas, disse o hóspede, porventura o Sr Martinho não se decidiria a esperar mais um ano se o senhor lhe relatasse as sua circunstâncias?
- Não, respondeu o Sr. Bonilha, estive esta amanhã no seu escritório e falhei-lhe a este respeito; ele , porém, disse que precisava do seu dinheiro, sendo neste caso obrigado a dar por vencida a hipoteca.
- Deve ser um homem sem piedade, observou o hóspede.
- Isto talvez não, respondeu o Sr. Bonilha; a questão é que essa gente abastada nada conhece dos apuros em que se vêem os pobres. Eles são como qualquer outra gente e estou convencido de que se tivessem a menor idéia do que têm de sofrer os pobres, abririam o coração e suas bolsas. O senhor sabe que se tem tornado proverbial o dito: "Se um pobre carece de socorro, deve dirigir-se aos pobres." A razão é simples. Só os pobres é que conhecem as dificuldades da pobreza; eles sabem quanto é difícil comover o coração dos homens, e, para servir-me da minha expressão predileta, eles sabem identificar-se com o desgraçado e compreender a sua situação; por isto estão sempre a prestar socorro, tanto quanto lhes é possível. Se o Sr. Martinho tivesse a mais superficial idéia que fosse, do que eu e minha família temos de passar, creio que havia de preferir esperar alguns anos pelo seu dinheiro a apertar-nos como agora está fazendo.
Pode-se imaginar com que atenção o hóspede escutava as razões do seu hospedeiro. Um novo mundo se desenrolava aos seus olhos e experimentava uma sensação que nunca em sua vida experimentara. Logo depois de terminada a refeição, levantou-se, e despedindo-se, agradeceu cordialmente a hospitalidade que lhe fora dispensada. A pobre gente convidou-o a pernoitar, dizendo-lhe que de bom grado lhe dariam o que tinham. Ele, porém, agradeceu e disse:
- Não quero abusar da vossa bondade. Penso que posso chegar ainda à primeira vila antes da noite e terei então adiantado mais um pouco a minha viagem.
O Sr. Martinho não pode conciliar o sono aquela noite: revolvendo-se no leito rememorava os acontecimentos daquele dia. Tinha aprendido alguma coisa. No seu pensamento sempre havia relacionado os pobres com a imbecibilidade e a ignorância, e agora tivera de fazer a experiência de que logo a primeira família pobre que havia visitado excedia de muito em civilidade e inteligente simpatia a alta sociedade moderna.
No dia seguinte veio um rapaz àquela casa e entregou uma carta num grande envelope azul, destinado ao Sr. Bonilha. A Sra. Bonilha recebeu-a muito excitada, porque aos seus olhos os envelopes azuis tinham alguma relação com as leis e as autoridades, e julgou que não podia conter boa coisa. Pondo-a e parte, esperou até que o marido voltasse do trabalho para lhe entregar. Este abriu-a e leu-a em silêncio, depois disse, num desabafo de contentamento:
- Graças a Deus!
- Que é, João? perguntou a Sra. Bonilha.
- Boa notícia, minha mulher, respondeu João; - uma notícia como eu nunca a esperava, sim, com que eu nunca sequer teria sonhado.
- Que é? Conta-me logo; desejo ouvir também, se é efetivamente alguma coisa boa.
- O Sr. Martinho quitou a hipoteca e remitiu-me a dívida, juros e capital. Diz ele que, se algum dia necessitasse de auxílio, me dirigisse a ele.
- Oh, que contente estou! Isto dá-me nova esperança, disse a feliz mulher; mas que é que aconteceu com o Sr. Matinho?
- Não sei. Parece muito esquisito isto, depois da conversação que tivemos ontem. Irei imediatamente ter com ele para lhe dizer quanto nos tornou felizes.
O Sr. Bonilha foi à casa do Sr. Martinho e exprimiu-lhe com calorosas palavras o seu agradecimento.
- Que é que o determinou a usar de tanta bondade para comigo? perguntou ele.
- Segui o seu conselho, respondeu o Sr. Martinho, e procurei identificar-me com sua situação. O senhor há de ficar surpreendido de saber que fui eu aquele pobre viajante a quem ontem dispensou tanta amabilidade.
- Devera? exclamou o Sr. Bonilha. É possível? Como conseguiu disfarçar-se de tal modo?
- Não estava tanto disfarçado, mas o senhor não teria sido capaz de relacionar o Sr. Martinho, o rico advogado, com aquele pobre viajante.
- Ora, foi uma boa peça que o senhor nos pregou, disse o Sr. Bonilha; boa em mais de um sentido. Terminou muito agradavelmente para mim.
- Estava admirado, disse o Sr. Martinho, das largas visitas que o senhor tem dos homens e de sua ações em geral. Pensei que muito me avantajava ao senhor em condição e educação; mas quão acanhadas e egoístas eram as minhas vistas ao lado das suas! Sua esposa é uma mulher nobre e seu filho faria o orgulho de qualquer pai. Eu lhe digo, Sr. Bonilha, continuou o advogado com vivacidade, o senhor é rico, mais rico do que o poderia tornar o dinheiro; o senhor possui tesouros que se não adquirem com ouro. O senhor não tem nenhumas obrigações para comigo. Quer me parecer que vivi mais alguns anos desde a nossa entrevista de ontem. O que aprendi em sua casa vale mais do que importava a sua dívida e eu é que sou agora o seu devedor. Diligenciarei seguir sempre este lema: "Identifica-te com a sua condição, e procura acomodar a ela as tuas ações."
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